O quanto sua vida pode mudar em 820 dias?
Na noite do dia 24 de março de 2020, em um fim de tarde, eu terminei de escrever minha primeira novela, “Clara”. Mesmo lá atrás, eu já percebia que algo havia acontecido. Que era um daqueles momentos que eu jamais esqueceria.
O Rafa daquela época tinha sua carreira toda planejada. Tinha acabado de começar um mestrado e planejava ir para o doutorado para se jogar de cabeça nos concursos em busca de uma vaga de professor em alguma universidade federal no país. Acontece que eu não estava tomando essas decisões de forma consciente. Sabe quando as coisas vão acontecendo e você vai sendo levade? Me lembro até hoje de uma conversa que tive sobre isso em uma mesa de bar com o Pablo, um grande amigo meu. Eu estava sendo levado e não sabia pra onde a onda me carregava.
Escrever Clara foi como encontrar uma pequena canoa. Quando saí da água, pude pensar e escolher para onde eu queria ir. Vi que eu precisaria remar contra a corrente e eu não tinha certeza se minha canoa (tadinha, tão detonada!) aguentaria a tarefa hercúlea que se desenhava diante de mim. O que eu não sabia era que ela não precisaria chegar até o fim da jornada. Bem, pelo menos não daquele jeito.
Aos poucos fui comprando algumas peças: remos, boias salva-vidas e bancos. Mas o mais importante foram as pessoas que encontrei. Algumas me davam dicas de por onde seguir, outras me ajudavam a remar. Cada compartilhamento de livro, cada mensagem que eu recebia sobre minhas histórias eram portos seguros, locais onde eu sabia que eu podia parar, respirar e continuar a jornada.
A gente nunca tá sozinhe
De vez em quando eu vejo algumas canoas no caminho. Conversamos e trocamos experiências. Aprendemos que não estamos sozinhes e isso nos motiva a seguir em frente. O tamanho do veículo varia: canoa, barco, Jet Ski e, vez ou outra, uns navios. Mas isso é um detalhe. O importante é continuar seguindo.
Hoje, eu considero que minha canoa me levou até onde ela conseguia. Agora, tenho um barquinho. Ainda é bem modesto, ainda preciso remar muito, mas já é uma evolução.
820 dias. Foi o tempo que levou para eu deixar de ser arrastado pela onda e começar o meu próprio caminho. Hoje tenho três livros publicados na Amazon de forma independente, mais dois escritos e uns 3 em processo de construção. Devem ver a luz do dia num futuro não muito distante.
820 dias. Sei que ainda vai demorar um tempo para que meu barco consiga me dar um retorno que me permita arriscar viagens mais longas, mas se tem uma coisa que aprendi ainda quando eu era criança é que o importante não é o destino, mas sim caminhar em direção a ele.
“Caminhante, não há caminho, caminho se faz ao andar”. Para se encaixar melhor com minha analogia: caminho se faz ao remar. Então bora continuar que o oceano é imenso.
Sorte nossa que temos um céu azul lindo para embelezar a jornada.