Um homem branco, por volta de uns quarenta anos, sentado na frente de uma máquina de escrever, um copo de café ao lado e a fumaça de um cigarro subindo em uma lenta espiral. Essa descrição, além de revelar vários preconceitos — dentre eles o machismo e racismo — persistiu por muito tempo no imaginário popular sempre que a palavra escritor era mencionada.
Ser escritore era algo para poucos.
A dúvida, no entanto, permanece: o que é ser escritore em 2022?
Há várias formas de tentar responder a essa pergunta. Se tentarmos uma abordagem mais filosófica, podemos usar uma frase do José Saramago (meu escritor favorito) que diz o seguinte:
Concordo que é algo pesado, mas gosto dessa visão mais orgânica, mais carnal do Hemingway. Para ser escritore, você precisa escrever. É isso. Simples e direto. Por mais que tenha pessoas por aí querendo inventar duas mil regras para você conseguir sua “carteirinha de escritore”. Da mesma forma que quem lê, é leitore, quem escreve é escritore. Escreva e escreva tanto que chegue a sangrar. A prática leva à perfeição, não era esse o ditado? Com a escrita não tem porque ser diferente.
Escritories, são antes de mais nada, leitories
Você consegue pensar em artistas que não consomem arte? Uma pintora que não gosta de ver quadros, um músico que não escuta música, uma atriz que não assiste filmes ou peças de teatro? Difícil imaginar, né? Da mesma forma, não faz sentido ser escritore, sem antes, ser leitore.
Através da leitura é possível aprender a construir sentenças e a estruturar uma narrativa, além de ser uma maneira de sempre manter a imaginação ativa. Você não precisa ser expert em gramática para começar a escrever — apesar ser importante saber o mínimo para que a leitura do seu texto não seja dolorosa —, mas certamente você precisa saber como uma história é contada. A melhor forma de descobrir isso é devorando os mais diversos tipos de livros e isso inclui livros técnicos sobre a escrita. Indicarei alguns no fim desse texto.
Ok, você já sabe que escritore é um ser que escreve continuamente e tenta passar a sua visão de mundo através das palavras e, para isso, elu lê muito a fim de ter uma noção do que está fazendo. Mas o que vem depois que o texto está pronto?
O próximo passo é editar a sua história. Contrate um revisor profissional, caso tenha essa possibilidade, e chame leitories para serem beta-readers. Elus te ajudarão a elevar o nível do seu trabalho e a apontar erros que você dificilmente perceberia.
Após a revisão, divulgue! Estamos na era da informação. Hoje é mais fácil que nunca fazer com que seu texto seja lido por outras pessoas. As revistas e editoras — apesar de ainda serem ótimas alternativas — não são mais as únicas opções. Publique no Wattpad, crie um blog, ou se preferir, escreva no Medium. Caso já tenha um livro pronto, existem várias opções para auto publicação. Farei um texto sobre isso no futuro, então sem spoilers.
Boas práticas para se tornar ume excelente escritore
1) Estude sempre. Não precisa ser uma faculdade, apesar de os cursos de letras e jornalismo serem ótimas opções caso você queira pular de cabeça na escrita. O estudo, ao qual me refiro, vai além da graduação: leia, assista vídeos sobre escrita, faça cursos online, ouça podcasts! O que mais temos hoje são opções de estudar sobre qualquer assunto. E tire um tempinho para entender melhor sobre como funciona o mercado editorial, caso esteja pensando em publicar seu livro no futuro.
2) Crie o hábito de escrever sempre. Estou repetindo isso aqui, caso você ainda não tenha percebido a importância desse ponto. Uma jogadora de futebol não aprende, de uma hora para a outra, a ser uma boa atleta. Tem uma frase que eu gosto bastante que diz algo como: o sucesso da noite para o dia às vezes demora dez anos. Existem exceções? Claro, mas acho que você pegou a ideia. Então, tire um tempinho (nem que seja meia hora) do seu dia para escrever. Sei que nem sempre conseguimos escrever o tanto que queremos e temos que conciliar a escrita com todas as outras tarefas e profissões. Ainda assim, quando puder, escreva.
3) Comece um blog ou diário. Isso te ajudará a ter conteúdo para escrever mesmo quando estiver com bloqueio criativo na história na qual você está trabalhando.
4) Por fim, converse com escritories. As redes sociais estão aí para isso. Conversar com pessoas que estão passando por experiências parecidas com as suas pode te ajudar a ter ideias e a se tornar ume profissional melhor. Sem contar o networking que você faz no processo. Só vantagens. Nas minhas redes sociais você encontrará centenas de pessoas que estão ligadas ao mercado do livro. Acompanhar o trabalho delas pode ser uma boa forma de começar a entrar nesse mundo.
Não desanime da escrita. Se é algo que você gosta, se é algo que você quer fazer, vai fundo! Tenha sempre em mente qual o motivo que te move. Pense sempre no porquê você escreve. A escrita, apesar de todo aquele sangue que o Hemingway disse, deve ser algo prazeroso, reconfortante, que mostre ao mundo a sua forma de enxergá-lo. Para mim, escrever é uma rota de escape, o único momento onde estou vivendo com o máximo de intensidade. Como disse o autor de Fahrenheit 451:
Algumas sugestões de materiais
Livros sobre escrita:
Para ler como um escritor – Francine Prose.
Zen e a arte da escrita – Ray Bradbury.
Sobre a escrita – Stephen King.
Misery — Stephen King (é um romance, mas aborda muitos pontos sobre o processo de escrever).
Podcast
Curta ficção
Canais no YouTube
ShaelinWrites(inglês)
Abbie Emmons (inglês)
Writing with Jenna Moreci (inglês)
Henri Bugalho — Vlog do escritor (vídeos antigos)
Pam Gonçalves (vídeos antigos)
Canal da Babi Dewett (ela fala muito sobre mercado editorial e compartilha dicas para escritories)